Quarta-feira, 23 de Maio de 2007

A literatura da medicina

 

 

De Profundis, Valsa Lenta é o título que José Cardoso Pires dá a uma obra na qual ele descreveu todo o processo reflexo do AVC que abalou a sua vida durante mais de um ano. Desde o momento da perda de identidade,passando pela fase em que troca as palavras (sem as conseguir coordenar) até à fase de recuperação, Cardoso Pires conta como foi a sua vida no hospital, dentro de um quarto de paredes branca, onde o corredor (também todo ele branco) era a busca pela liberdade...

O Prefácio do Professor João Lobo Antunes vem dar ainda mais beleza a esta obra, que retrata uma doença a que todos só têm acesso em "manuscritos cientificos" mas que agora podem compreender nao só o que se passou la dentro (do cérebro), mas também na alma. Afinal, a literatura dá o poder ao escritor de escrever aquilo que sente.=)

É um bom livro, de leitura rápida e podemos até considerá-lo "pedagócico!LOL

 

Deixo umas quotes do prefácio e da obra:

"Devo dizer-lhe que é escassa a produção literária sobre a doença vascular cerebral. A razão é simples: é que ela seca a fonte de onde brota o pensamento, ou perturba o rio por onde ele se escoa, e assim é dificil, se não impossivel, explicar aos outros como se dissolve a memória, se suspende a fala, se embota a sensibilidade, se contém o gesto..." Prof. João Lobo Antunes, in Prefácio

 

"Foi numa manhã cinzenta que nunca mais esquecerei, as pessoas a falarem não sei de quê e eu a correr a sala com o olhar, o chão, as paredes, o enorme plátano por trás da varanda. Parei na chávena de chá e fiquei. sinto-me mal, nunca me senti assim, murmurei numa fria tranquilidade. Silêncio brusco. Eu e a chávena debaixo dos meus olhos. De repente viro-me para a minha mulher: "Como é que te chamas?" Pausa. "Eu? Edite." Nova pausa. " E tu?" "Parece que é Cardoso Pires", respondi então." pág 21

 

"Sem memória esvai-se o presente que simultaneamente já é morto. Perde-se a vida anterior. E a interior, bem entendido, porque sem referências do passado morrem os afectos e os laços sentimentais..."pág 25


publicado por maryjo às 18:34
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Quarta-feira, 16 de Maio de 2007

nem tudo começa com um beijo

 

Um livro com uma capa deliciosa só pode conter uma história maravilhosa lá dentro. Por entre as páginas recheadas de palavras encontramos também ilustrações lindas e que dão mais realismo a esta história digna quase de um conto de fadas.

Um livro que parece quase escrito para crianças mas que concerteza agrada aos adultos (a mim agradou e muito).

Nem tudo começa com um beijo começa com um segredo que só mais tarde será revelado: “Gelatina aprendeu, por experiência própria, que o remorso ataca sobretudo à noite.” Gelatina (a personagem) esconde o seu segredo para proteger outra pessoa, e Fio Maravilha encontra o amor junto da Nuvem Maria.

Sim, os nomes não são os mais comuns, de todo. Temos o/a Gelatina, Bisnaga, Fio Maravilha, Molécula, Armando Pantera, Domingo, Nuvem Maria e mais.

Não quero contar tudo para não abrir o livro mas dou só umas pequenas pistas (as mesmas que os autores dão):

Este livro apresenta “o mundo como sendo uma casa, que tem Cave e Sótão. A Cave são os buracos do esgoto que servem de tectos…aos meninos que não têm para onde ir. No Sótão fica a cidade. Nele vivem as pessoas que se cruzam nos elevadores, dizem ‘bom dia’ e ‘boa tarde’ mas não se conhecem.”.

Pelo meio mas talvez o mais importante, deparamo-nos com uma bela história de amor, daquelas que hoje já não encontramos. Uma história que não começa com um beijo mas com desenhos colocados debaixo de uma pedra sobre um banco à espera de uns cabelos loiros. “Os desenhos sempre acompanhados de um pensamento, de uma confissão. De uma declaração de amor.”

Depois de tudo dito, é fácil de perceber que adorei o livro. Li-o de uma rajada e soube bem porque durante aquele tempo fiz parte deste mundo que muitos desconhecem mas que está ao virar de todas as esquinas.

Espero ter-vos despertado o interessa pois é uma leitura leve e linda, se todos fossem assim tão agradáveis de ler…

E lembrem-se: nem tudo começa com um beijo. ;)


publicado por eli às 21:10
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Sexta-feira, 11 de Maio de 2007

On Beauty




O que dizer de Zadie Smith e do seu livro On Beauty?

Para começar, fala de amor. Do que a vida quotidiana e as rivalidades podem trazer para as relações. Fala de traição e segundas oportunidades. Fala de política, literatura, pintura, vida académica, vida entre as quatro paredes do que ser uma família implica. Sim, fala principalmente de família e sacríficios feitos em nome dela.
Zadie Smith leva-nos pelos corredores de duas famílias cujos patriarcas nutrem nada menos do que um venenoso ódio de muitos anos. Apesar da distância que ambos pretendem manter entre os seus respectivos ninhos, a aproximação parece acontecer inevitavelmente. As mulheres tornam-se amigas. Os filhos envolvem-se. E de um momento para outro, as regras do jogo alteram-se e uma ligação para lá dos sentimentos destilados ganha forma. Duas famílias numa só. Segredos a contra-luz. On Beauty fala da beleza, realmente. Da beleza das relações e das prestações individuais depositadas em cada uma delas, independentemente do tipo de relação que forem. Da beleza que existe até no sofrimento e em todas as coisas feias. Fala de não desistir. Em manter o ódio, em manter o amor, em manter a amizade. Em nos mantermos firmes. Mesmo quando tudo se desmorona aos nossos pés. Uma lição sobre a beleza existente no acto de (sobre)viver. Pois é por a vida continuar que continuamos com ela. Para além disso, está belíssimamente bem escrito ;)

Deixo aqui, para finalizar, o poema escrito por Nick Laird (marido de Zadie) que oferece conteúdo ao título e que está, incluído na obra:

On Beauty

No, we could not itemize the list
of sins they can't forgive us.
The beautiful don't lack the wound.
It is always beginning to snow.

Of sins they can't forgive us
speech is beautifully useless.
It is always beginning to snow.
The beautiful know this.

Speech is beautifully useless.
They are the damned.
The beautiful know this.
They stand around unnatural as statuary.

They are damned
and so their sadness is perfect,
delicate as an egg placed in your palm.
Hard, it is decorated with their face

and so their sadness is perfect.
The beautiful don't lack the wound.
Hard, it is decorated with their face.
No, we could not itemize the list.

Nick Laird ~ To a Fault

publicado por xary às 18:39
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o clube

 

tinha curiosidade em ler este livro mas a oportunidade não tinha surgido..até mo emprestarem. comecei a lê-lo provavelmente com as expectativas demasiado altas. no começo já se sabe que tudo é confuso, ou pelo menos parece ser. não é um livro dificil de ler, exceptuando algumas palavras escritas numa forma antiga. curiosa devido ao nome do livro, fui folheando.

não querendo levantar muito o véu, tudo começa com uma morte, que ao longo do livro a meu ver, (embora não esquecida) é posta um pouco de lado, para falar mais sobre este clube. um grupo de leitura criado de maneira a homenagear o seu ídolo: Dante. muitas são as referências à sua obra, causando até curiosidade para saber mais sobre o autor.

mais mortes se dão e aí reside o mistério. o porquê destas mortes e quem é o responsável.

um livro um pouco maçudo e que por vezes não avança na história, mas mesmo assim vale a pena ser lido.

"We all do things we live to regret."

 


publicado por eli às 00:35
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Sexta-feira, 4 de Maio de 2007

walk out of it

More than anything else, however, what he liked to do was walk. Nearly every day, rain or shine, hot or cold, he would leave his apartment to walk through the city - never really going anywhere, but simply going wherever his legs happened to take him.
New York was an inexhaustible space, a labyrinth of endless steps, and no matter how far he walked, no matter now well he came to know its neighbourhoods and streets, it always left him with a feeling of being lost. Lost, not only in the city, but within himself as well. Each time he took a walk, he felt as though he were leaving himself behind, and by giving himself up to the movement of the streets, by reducing himself to a seeing eye, he was able to escape the obligation to think, and this, more than anything else, brought him a measure of peace, a salutary emptiness within.


até agora, está a ser fantástico.

publicado por marina às 22:49
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