Estou para escrever sobre este livro há demasiado tempo. Desde que voltei das férias de verão, para ser sincera. Deveria tê-lo feito mal cheguei e aposto que a Eliana vai estar desse lado a ler e a acenar quase de forma furiosa com a cabeça como quem diz "pois devias!" e tem toda a razão ;) Mas vamos (finalmente!) ao que interessa:
Ler uma obra do Vergílio Ferreira é sempre um momento de verdadeira aparição para mim; nem sempre a história me cativa especialmente mas frequentemente surge um pensamento, uma frase capaz de me catapultar para a página seguinte. Quando dou por isso já cheguei à última de todas e está na hora da despedida. É assim que as coisas são.
Alegria Breve despede-se de muita gente, fecha os olhos a demasiadas recordações. É um relato, ausente de qualquer regra cronológica, preso apenas ao olhar da memória do último habitante de uma aldeia esquecida. Este é o Último Homem da (sua) Terra. A sua função é pesada mas serve-a com orgulho. Através dele conhecemos as figuras que um dia também fizeram parte do quotidiano da sua aldeia, e que, com o passar dos anos foram falecendo, deixando a aldeia cada vez mais no esquecimento. Mas é importante não esquecer. Seja pelo que for, é importante. As casas abandonadas já perderam essa capacidade mas o Último Homem da Terra (re)lembra.
Vive-se um luto penoso, quase em silêncio. E quem está lá para ouvir, caso não o fosse? É uma voz desgastada pela solidão que conta. E o Último Homem considera-se imortal; alguém tem de o ser. Para perpetuar tudo o que ficou mas também o que já se foi. Recordar: pela aldeia, por ele e pelos outros. É importante.
Mas não é, de todo, uma obra Alegre por mais que o título vos faça pensar que sim. E se houver nela alegria, ela é, de facto, Breve. Mas é suficiente para manter vivo o que resta da esperança. Nem que seja apenas a do Último Homem da Terra.
No entanto, foi uma história interessante para fechar algumas portas e fazer as devidas despedidas.
Ficam aqui umas citações:
« A vida humana é verdade como tudo o que a preenche. É a sua perfeição. »
« - Não chegou ainda a nossa hora - disse eu.
Ela viria um dia, com a terra desabitada. Que seria então o passado? Há muita coisa ainda a morrer. »
« Às vezes penso que, se não forçasse a memória, a esqueceria depressa. »