Há quem diga "José Saramago? Isso é para exibicionistas, gentinha que anda por aí e lê o dito cujo só para dizer ah e tal eu leio um prémio Nobel, e você?" Mas a verdade é que já li há coisa de dois anos atrás o seu livrinho "O Homem Duplicado" (como talvez algumas meninas aqui desta cantinho, porque foi nossa leitura obrigatória), e vou ainda agora a meio da "História do Cerco de Lisboa", tendo ali a "Jangada de Pedra" na estante, à minha espera. Ora o intuito deste post é justamente afirmar que eu, não sendo nada exibicionista no que diz respeito aos livros (que o resto não é para aqui chamado), digo que gosto muito da escrita do tal senhor do prémio Nobel. Pronto, disse. Crucifiquem-me, vá! Gosto da escrita complexa que à tantas me faz voltar a atrás, porque já não sei bem quem está a dizer o quê, que tem as suas divagações (tal como nós próprios as temos, e por vezes até mesmo (ou especialmente) quando lemos), o que é muito bom. E isto porquê? Justamente porque essas divagações podem servir de suporte à própria divagação do leitor. Imaginemos que ao ler, o leitor pensa que gostaria de ler mais umas linhas sobre o tal tema que o senhor do prémio Nobel mencionou agora. E qual não é o seu espanto quando o narrador se afasta completamente da sua narrativa e por ali divaga sobre literatura ou filosofia ou até mesmo ditados populares. Contudo, não nego ser uma escrita algo diferente. Não só a sua pontuação, como a própria organização estrutural, mas por isso mesmo me prende a cada página e por isso mesmo talvez "afaste" tantas pessoas das suas obras. O senhor do prémio Nobel (já lá vão dois livros e sei que é uma generalização barata) parece gostar de colocar os seus personagens a fazer coisas estranhas, sem percebermos muito bem porquê. As razões e finalidades estão na cabeça da personagem e temos acesso a elas por um narrador que comunica constantemente connosco, leitores, chamando a nossa atenção para um ou outro ponto. E eu também gosto desse jogo do desconhecido, do porquê fazer isto ou aquilo, ou do porquê jogar sempre pelas regras. Digo ainda mais uma coisa (aproveitando a onda deste ser o meu primeiro post decente), com um livro do senhor já lido, outro a meio e outro ali por ler, estou de facto curiosa com o resto da sua obra, e quem sabe um dia (daqui a dois anos, para os que percebem o porquê deste espaço de tempo), não passarei ai por uma livraria e diga assim "Olhe, se faz favor, era um Saramago".