Quarta-feira, 30 de Janeiro de 2008

Explicações de Português



Uma colectânea de crónicas de Miguel Esteves Cardoso que aborda todos os aspectos incluídos nisto que conhecemos como Ser Português: desde as manias e jeitos torcidos de encarar o próprio país, povo e cultura, passando por deliciosos apanhados da língua que nos une como pátria, MEC também apresenta neste livro um conjunto de textos cuja poesia na sua prosa nos desarma a cada frase. Como tudo o que é nacional é bom, há crónicas para todos os gostos. Numas não há maneira de não nos emocionarmos, noutras de nos rirmos e o mais importante de tudo, em todas elas nos revemos.

MEC sabe onde pica e como picar; E fá-lo com espantosa mestria. Somos um povo que se abate, que se eleva, que é mesquinho mas que sabe nutrir compaixão quando esta é pedida. Somos uma pluralidade de maneiras de ser e estar, todas elas diferentes e unas em si. Somos, assim mesmo, sujeito em plural. Talvez se nos questionado uma forma de nos definir, não o saibamos identificar do pé para a mão. Mas MEC consegue, porque todas as partes desta sua obra se reúnem numa maneira única de ver o País e o Povo que o vive. Temos dias, falhamos na maioria deles. E no entanto, é a melancolia da esperança que nos ilumina nas restantes alturas. Somos grandes mesmo nesta pequenez tão nossa. MEC reconhece-o sem pudores ou conveniências e, para quem se esquece desta verdade, tem as Explicações de Português para o relembrar. Que somos o que somos e não há maravilha maior que essa.


publicado por xary às 00:31
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Terça-feira, 29 de Janeiro de 2008

dança com murakami

mais um livro do Murakami mas desta vez li a tradução portuguesa. à parte de um pequeno pormenor ("vodca com soda" - que me fez lembrar soda caústica; podendo ser traduzido por gasosa), a tradução está muito bem feita. a tradutora pensou nos leitores que não conhecem a realidade japonesa e colocou algumas notas de roda pé para nos elucidar. como o tradutor é tão importante quanto o autor, até porque "volta a escrever", era de bom tom, que o nome do tradutor aparecesse na capa e não escondido numas páginas, por isso Maria João Lourenço é a tradutora deste livro.

quanto ao mesmo, este retoma a história contada num anterior: a wild sheep chase ou em busca do carneiro selvagem, em português. a história leva-nos ao hotel golfinho onde o narrador viveu uma história que o faz voltar ao mesmo sitio cinco anos depois. o hotel pobre e sem condições dá lugar a um dos hóteis mais luxuosos da zona. existem recepcionistas simpáticas e bem vestidas à vista de toda a gente, e um homem carneiro que só aparece quando tudo dorme e que tudo sabe. a rapariga do walkman, esquecida no hotel pela mãe, é uma peça muito importante na história assim como o amigo actor, famoso, com muitos conhecimentos e um maserati.

do que li de Murakami, é muito seu hábito misturar o real com a fantasia (coisas inacreditáveis), e esta história não é excepção. são sempre livros dificeis de explicar. o melhor mesmo é ler e fazer parte deste mundo a cada página folheada.


publicado por eli às 22:08
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Segunda-feira, 28 de Janeiro de 2008

A Casa Quieta



Por mais coisas que sejam as coisas, acabamos sempre por lhes conferir algum significado. Ligamo-nos às coisas como se delas pudesse ser retirado algo mais do que o propósito que servem. Mas a verdade é que, em muitos casos, pode-se retirar e também, dar, a essa coisa à qual nos apegamos, muito. De nós.
As casas, por exemplo, tornam-se depositórios de lembranças e momentos que, por mais banais, acabam sendo especiais. Por que fizeram parte da nossa vida e estiveram lá, para o bom e para o mau, mesmo quando nada fizemos para que assim fosse. As paredes da casa onde moramos já nos viram chorar, rir, dançar, dormir, comer, lavar, gritar, sorrir, conversar, ouvir... A lista é interminável. A nossa casa vê-nos e aceita-nos como somos. E molda-se à pessoa que nela vive por mais que achemos ter sido nós a decorá-la ao nosso gosto.
Uma casa também se ressente. Também ama e morre. Uma casa também se inquieta. Responde à emoção que os seus habitantes sentem em determinadas alturas. A casa onde vive a história de Rodrigo Guedes de Carvalho, abre-nos as portas para uma vida que já nos vimos a viver, mesmo que não tenhamos passado pelas experiências das personagens retratadas.
Na casa agora quieta mora Salvador, um arquitecto cuja mulher Mariana faleceu devido a uma doença terminal. O livro avança e recua no tempo para dar a conhecer os meses, até mesmo anos, anteriores e seguintes à morte de Mariana: como é que a descoberta da doença os afectou, a forma como ambos lidaram com essa realidade, que outros problemas vieram à tona das suas vidas aparentemente felizes e satisfeitas em satisfazerem-se apenas um com o outro (os filhos que não tiveram, os casos amorosos que os desviaram da rota comum em que se  encontravam, a ausência e rigidez do pai de Salvador, a loucura pós-guerra do irmão).  Somos, assim, convidados a presenciar todas as fases pelas quais este casal passa e mais do que isso, estamos lá quando Salvador se despede da casa onde viveu quase todos os seus sonhos devido ao desaparecimento do maior sonho deles todos: a mulher que sempre amou.
A casa quieta é uma história de despedida e mágoa, onde uma vida fica a parecer pouco para o tanto que se tinha ainda para dizer e fazer. Salvador e Mariana perceberam a dada altura que, o amor não é de todo suficiente mas é a melhor razão para que a vida possa existir.

« Pudéssemos viajar, não para lugares longínquos de paisagens tremendas, não ao encontro de outros povos, culturas e cheiros, outras gentes e sabores,
mas ao interior uns dos outros. »

Eu diria, às casas que somos.

publicado por xary às 00:43
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Terça-feira, 22 de Janeiro de 2008

cemitério de pianos

para além de escrevermos uma pequena apreciação sobre os livros é igualmente importante referirmos quem nos deu a conhece-lo, quem nos quase o obrigou a comprar. no meu caso, se a firelfy mo mostrou, disse de quem era (licenciado na nossa faculdade, até do mesmo departamento), o autor fez o resto, ao ver uma entrevista em que com o seu ar descontraido e já com alguns brincos, conversou com duas aspirantes a jornalistas, na rtp2. alguém viu? o facto de ser bastante novo, aguça a vontade de saber o que esta juventude de escritores anda para aí a escrever. decidi comprar o livro e não me arrependi. do que fala, ou pelo menos qual a personagem principal, já muitos devem saber. e sim, os pianos entram na história, servindo de esconderismo para um adultério. ups, acho que já falei demais.

vamos por partes, a personagem principal ou pelo menos aquela que se sabe que existiu realmente. um atleta que faleceu durante a maratona olimpica de 1912. mas até chegarmos a esta parte, temos muito que ler, até porque é quase no final do livro.

uma familia é o enquadramento geral deste livro, e todos falam das suas vidas de hoje, de ontem e de um passado mais distante. deu para perceber? é que "o" Peixoto não se limitou a escrever um livro linear. achou por bem que devia confundir o leitor com as mudanças constantes de personagens que contam a história. se no inicio este foi um dos factores que mais confusão me fez, tendo que voltar a ler a página anterior, depois de estar habituada, foi o que mais me agradou, pela maneira que tudo ia sendo descrito por cada personagem à sua maneira e ao seu tempo.  a familia Lázaro, apesar das mortes, desaparecimentos e reencontros é uma familia igual a tantas outras que podem ou não ter um cemitério de pianos onde muitos encontros se dão.

se mo quiserem pedir emprestado, entrem para a fila de espera. não sei quanto tempo podem ter que esperar, pois é a firelfy que o tem. sim, comprei o livro, li-o e ainda lho emprestei lol.

se quiserem saber um pouco mais, visitem.


publicado por eli às 22:45
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