Domingo, 11 de Março de 2007
Book of Illusions tinha passado alguns meses preso a um certo cepticismo que me impedia de dar corda à sua leitura.Comecei-o numa das inúmeras visitas à residência mas acabou por ficar de lado. E tão cedo não lhe voltei a pegar. Devo admitir que a minha opinião/curiosidade sobre a escrita de Auster tinha vindo a descrescer quanto mais livros do autor lia. Sabia que não era por mal, não se pode gostar de tudo e talvez o esforço de querer gostar estaria a impedir que tal acontecesse de forma natural. Daí as minhas expectativas não serem elevadas. Mas decidi pegar-lhe e ir até ao fim. E o fim, o fim de tudo é que incitou o começo desta leitura, percebo agora.Revelou-se uma catarse interior. Com temas ainda demasiado presentes. Despedidas a serem proferidas nas páginas e palavras de Auster. Uma personagem moribunda, às portas do final da vida. E outra que lhe apanha o rasto, através da tragédia que tinha ocorrido na sua própria vida. Ambas as vidas interceptam-se por breves momentos, um acontecimento que já estaria destinado desde o início da história. E ao longo da narrativa vai-se esperando pelo momento em que são partilhados cumprimentos e adeus. Em que uma vida a entrar na morte salva outra. Mistérios que sentem o calor da iluminação e ganham contornos mais visíveis.Gostei. De uma forma quase obssessiva, gostei. As minhas mãos agarravam-se ao livro que nem garras. Não descansei até pressentir o ponto final. E fez-me apreciar as restantes obras dele que tinham ficado para trás.Resta saber é se gostei por motivos pessoais ou graças à sua escrita. Quem o ler depois o dirá se a ilusão foi apenas minha.«Whoever lives too long, dies alive.»